quarta-feira, 11 de julho de 2012

Na Miudeza do Meu Pai

FATOS QUE FIZERAM A HISTORIA DE ESPERANÇA.

Meu Pai era comerciante de Miudezas em Esperança. Foi um dos primeiros comerciantes da cidade. Patrício da Miudeza. Começou com uma bodega na rua do Boi, no final da década de 30. Depois, nos anos 40, passou a negociar no ponto comercial do prédio do cinema São Francisco (O cinema de seu Titico). Posteriormente, na década de 50, mudou a sua loja para a esquina, onde hoje é a Farmácia de Milena. De lá, quase no final da década de 60, comprou um prédio, onde fixou-se definitivamente, com um armarinho de miudezas.Ele dizia: Tem que ter de tudo, só vende quem tem. Baseado nisso, escrevi, em versos, o que a Miudeza de meu tinha pra vender.



 NA MIUDEZA DO MEU PAI

Na miudea do meu pai vendia de tudo,
Menos comida, menos cachaça,
Era na rua principal da nossa cidade,
O povo dizia agente procura e acha.

Tinha tudo mesmo! de todo tipo de botaão
a agulha, fina e grossa, e de costurar bisaco
Agulha de sapateiro, de crochê e de costurar saco,
Alfinete, broche, colchete e botão de pressão.

Tinha perfume dos mais variados e até Royal Briar,
Sabonete fino e são aristolino pra coceira passar
Talco de pó pra criança e talco pra tirar chulé,
Loção de brba e todo tipo de loção pra mulher.

Quite pra defunto: mei marron e meia preta,
vela, cordão de São Francisco e incenso,
e se o espírito não me engana eu penso
que tinha fumo de luto em sinal de tristeza.

Enxoval de batizado com um par de meiote branco,
Também levva a vela, perfume de alfazema,
tôca de lã, luvas, e do menino Jesus um emblema,
pra ficar no quadro da parede, junto do santo.

Tinha quite de noiva: buquê e capela,
brinco de ouro ou de fantasia e também aliança,
o noivo trazia no bolso  medida do dedo dela
e fazia questão da qualidade pra ficar de lembrança.

E pra costureira: fita, bico de cambraia e renda,
dedal, tesoura, agulha de máquina e fita métrica,
óle pra máquina manual e máquina elétrica,
sianinha, inviéis, dedal de plástico pra fazer emenda.

Desodornte mistral e perfume desejo,
incenso 102, brilantina glostora e zezé
pasta kolinos, gessy e branquelejo,
pasta colgate, creme pra espinha de mulher.

Linha zebra, linha urso e linha bispo,
linha de tricô, de crochê e de pescar,
de pescar piaba, traira e até o caniço,
espoleta de papel e pólvora pra caçar,

Era coisa demais e como tinha coisa,
frizo, lapis de sobrancelha e bico de caneta,
sim, boneca de pano e boneco de boina,
calunga que dorme, mamadeir e chupeta.

Pros cabra macho, bala de 38 e cartucheira,
765, bala "U", ouvido de espingarda clibre trinta e dois
faca de sapateiro, canivete e peixeira,
e de cozinha peneira e escorredeir de arroz.

Pra meninada, binquedo de todo tipo,
bola de assopro, bola pelé, garrincha e rivelino,
e, pra encher a bola tinha também o pito,
tenis conga de menina e de menino.

E, pra escola, caderneta, lapiseira e carta do abc,
bico de pena, giz e luza pra escrever,
mata borrão, tinteiro e caneta de pau,
era tanta coisa , tinha até papeiro de mingau.

Também tinha meia soquete para os mais antigos,
gilete azul, pincel, espuma de barba branquinha,
suspoensório, cinturão de plástico e de couro pros amigos,
escova de dente dura, média e maciinha.

Esmeril de amolar navalha de aço soligem,
espelho redondo e quadrado, creme pra impigem,
pó de arroz, rouge e camisa de malha,
bolsa de escola, maleta e alça de mala.

Era coisa demais, até comprimido pra dor,
cibalena, cibazol, melhral e água rabelo,
sonrisal, gaiacol pra dor de dente e anador,
e, se não me falha a memória, tinta pra cabelo.







































































3 comentários:

  1. Desconhecia do jurista
    Esta grande vocação
    Poeta! o nobre artista
    O escritor João Batista
    de Patrício da Miudeza
    Procurador, Tratadista
    do Direito à razão
    Célebre memorialista
    que nos brinda com sua narração
    Agora vejo que ainda exista
    Quem do passado faça vocação.

    Rau Ferreira
    Blog HE

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  2. Valeu, Rau, você é que tem veia poética. Obrigado pelos comentários.

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  3. grande joão, é uma satisfação enorme e um deleite que me faz viajar no tempo lendo estes versos esscritos pelo nobre conterrâneo, sou filho de esperança e não pude deixar de me emocionar lendo estas tão ricas linhas por você escritas,
    parece que estou vendo o seu patrìcio com aquela bermuda, de sapato e meias pretas, minha mãe era costureira e todos os dias eu ia comprar linha "corrente OU LIPASA", "RÍ RÍ, OU FECHICLÉ" lembra dessas mercadorias? rsrsrsrs,
    um grande abraço companheiro, vou continuar acompanhano seu blog, fica com DEUS.


    marco aurélio,

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