terça-feira, 3 de outubro de 2017

Fatos e Fotos que Fizeram a História de Esperança


A Igreja Mariz de Esperança e o Seu Relógio Histórico


Já lí pequenas histórias sobre a construção da Igreja Matriz de nossa cidade, a reforma do templo e sobre a inauguração do relógio posicionado na tôrre, completando mais de  setenta anos de idade.

Todos os esperancenses são testemunhas do badalar  do relógio. Para toda a população, todos os olhos não se cansaram de olhar o relógio, no sentido de saber a hora certa, nas ocasiões mais importantes, ficando,costumeiramente, atentos ao horário.

As pessoas que não possuiam relógio confiavam cegamente no relógio da Igreja, na sua precisão, durante as vinte e quatro horas do dia. Muita gente gracejava com pessoas que perguntavam as horas a alguém que tinha relógio  no braço e respondia, com ares de brincadeira: Consulte o relógio dos pobres!

Quando era criança, sonhava com o presente de Papai Noel, na noite de natal, sempre esperando que amanhecesse, no dia de Natal, um relógio em cima da minha chinela. Nunca realizei esse sonho, nunca ganhei um relógio de presente. Nas brincadeiras de meninice, desenhava um relógio no braço, com lapis de tinta azul.

Porém, naqueles idos tempos, nenhum menino de minha idade possuía relógio. O relógio que sempre estava presente na vida de todos nós era o relógio da Igreja.

O Relógio dos Ricos.

Alguns adultos que eram conhecidos como ricos, entre eles, os comerciantes tradicionais da cidade, ou, pessoas de influência no meio social, de bom poder aquisitivo, encomendavam suas calças aos alfaiates, exigindo que a calça fosse feita com dois bolsos tipo algibeira. (algibeira era um pequeno bolso que os homens usavam para portar moedas ou conduzir o relógio de algibeira, por baixo do cinto). Eram relógios automáticos, modernos, diferentes dos que se usavam antes, aqueles que só funcionavam se o dono desse corda. Quando quebravam, levavam para o concerto e, sempre era a corda do relógio que se quebrava.  

Mas, o mais interessante ou o mais importante é descrever, não somente a importância que exercia  o relógio da Igreja sobre a vida das pessoas de toda a comunidade, mas a sua utilidade  social e o seu valor romântico para a vida de cada esperancense. Do amanhecer do dia ao final da noite ele era um meio de orientação, posso dizer assim, uma bússola indispensável.

O Aspecto Romântico do Relógio da Igreja.

No dia a dia das pessoas, em que todas as atividades da sociedade, no comércio, no esporte, na vida social, no lazer, para o horário de refeições, para o horário de dormir, estudar, ler, viajar, namorar e até, para casar.

Os casais de namorados que tinham namoro fixo, marcavam horário para os encontros, sempre à noite, cedo da noite, para ir ao cinema, ou mesmo, ir para a casa da namorada. Era sempre o relógio da Matriz, sempre escutado nos quatro cantos da cidade. Se algum dos namorados falhasse ou chegasse atrasado, ela sempre perguntava, em tom de repreensão: Não ouviu o relógio da Igreja tocar, não? A resposta era sempre enrolada.

Existia sempre um horário marcante, para diversas ocasiões, á noite, era o das 8,00 hs (vinte horas). Nas décadas anteriores, principalmente a década de 50, ou, melhor dizendo, nos anos cinquenta, era costumeiro marcar algum encontro depois da missa, aos domingos, isso acontecia com os casais de namorados, com as pessoas que ouviam programas de rádio, isto é, novela pela Rádio Borborema. Outras perguntavam a outras, dentro de casa, já ouviste se o relógio da Igreja já deu oito horas? Se alguém possuía relógio de pulso, não confiava no seu relógio, conferia pelo relógio da Igreja.
 Conferindo o horário, dizia: Este meu relógio é bom demais, sempre está com a hora igualzinha ao da Igreja.

O Avanço da Tecnologia.

Ninguém podia comprar um relógio, pois, era objeto de luxo, negócio de gente rica. E, os ricos só compravam relógio OMEGA, a marca mais famosa.

Pois bem, com o desenvolvimento tecnológico, o surto industrial, o aumento do poder aquisitivo da população, o desenvolvimento social, o relógio da Igreja começou a ficar em desuso, no esquecimento da população. A cidade foi crescendo, foram surgindo os bairros mais distantes, as pessoas residindo em lugares mais afastados, a ponto de não se escutar mais o relógio da Igreja tocando. Parece que ficou uma voz clamando no deserto.

Daí,começou a ingratidão. Todo mundo de relógio no braço, achando que o relógio da Igreja não presta mais. Se o coitado falhar, atrasar a hora,  dizem logo, o relógio da Igreja está doido, não adianta mais nem olhar para êle.

Mas, mesmo assim, êle continua incansável, persistindo às intempéries do tempo, marcando o tempo. marcando a hora de todas as pessoas fazerem refeição, de irem para a escola, de ouvir o canto da hora do Ângelo, às seis da tarde, e, esperar pela novela das oito e, ainda, anunciar a hora de dormir. 

A vida Noturna da Cidade.

Na década de quarenta, a energia elétrica de Esperança era movida por um motor, que funcionava por traz da casa de seu Antonio Gomes da Rocha, (Antonio de Epitácio) e o local em que funcionava aquele motor ficou conhecido como usina de luz.

O Prefeito da época determinou por decreto que a usina só funcionasse até as vinte quatro horas (meia noite), antes,fechava às 22,00 hs. Dizia, ainda, aquele decreto municipal que o motor começasse a funcionar às 18,00hs e, durante o inverno, às 17,00hs. Era sempre o relógio da Igreja que comandava. Com esse novo horário de funcionamento, a cidade passou a dormir mais tarde .